Procuradoria da Mulher na Assembleia Legislativa só atua em defesa de Mical Damasceno? 6id53
Casos graves de violência contra mulheres no Maranhão seguem sem resposta e Alema silencia diante das tragédias criminais 1s623

Nos últimos dias, a tribuna da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema) tem se transformado, com frequência, em palco exclusivo de defesa da deputada estadual Mical Damasceno (PSD). Enquanto isso, problemas estruturais graves enfrentados pela população — como a precariedade da segurança pública e a escalada da violência contra mulheres — são ignorados ou tratados com indiferença por boa parte dos parlamentares, inclusive pela Procuradoria da Mulher da Casa. 5p216a
É evidente que a deputada Mical Damasceno tem o direito de se defender e ser defendida, especialmente após se tornar alvo de ataques de cunho misógino e sexista por meio de mensagens vazadas de conversas privadas por meio do WhatsApp. O que causa perplexidade, porém, é o tratamento seletivo dispensado pela Alema — e, em especial, pela Procuradoria da Mulher — diante da violência de gênero que afeta centenas de maranhenses fora dos holofotes da política.
Casos brutais de feminicídio e agressões contra mulheres têm sido registrados em diversas cidades do estado, mas não provocaram qualquer reação pública por parte da bancada feminina ou da Procuradoria. A deputada Viviane Coelho, responsável pelo órgão, mantém silêncio diante de episódios que mereceriam, no mínimo, uma nota oficial de repúdio.
No último dia 30 de maio, por exemplo, Dheylla de Cássia Sousa Freire foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro dentro do próprio local de trabalho, em Itapecuru-Mirim. Poucos dias depois, em Riachão, Jussandra Gonçalves Jorge de Souza foi morta com 30 facadas, também pelo ex-marido. Mais recentemente, uma mulher foi encontrada morta e carbonizada dentro de casa, no município de Miranda do Norte. Em nenhum desses casos houve qualquer manifestação da Procuradoria da Mulher ou da presidência da Assembleia.
Além dos crimes de feminicídio, há outros episódios graves de violência de gênero sendo ignorados. A jornalista Silvia Tereza, conhecida profissional da imprensa maranhense, registrou boletim de ocorrência por agressões e ameaças misóginas. A denúncia ganhou repercussão nos meios de comunicação e foi endossada por entidades como o Sindicato dos Jornalistas do Maranhão (SINDJOR-MA) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Ainda assim, nenhuma manifestação partiu da Alema ou de sua bancada feminina.
A impressão que fica é que a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa do Maranhão tem se limitado a atuar como escudo político de deputadas, ignorando sua função institucional de representar, proteger e dar voz às mulheres maranhenses em geral — eleitoras, cidadãs e vítimas das mais diversas formas de violência. É uma distorção lamentável do papel que deveria ser desempenhado com isenção, empatia e compromisso com todas as mulheres do estado.
Se a Procuradoria da Mulher escolhe quem merece atenção com base em vínculos partidários ou conveniências políticas, ela falha em sua missão mais básica: a de garantir dignidade, proteção e visibilidade às vítimas de um problema estrutural e urgente. A luta das mulheres por respeito e segurança não pode ser seletiva. E tampouco deve se submeter à lógica do palanque político.
Por João Filho – Jornalista, Radialista e Pesquisador.