BEQUIMÃO-MA

Juca Martins: a saudade de um líder onipresente na política de Bequimão (MA)

Artigo escrito e publicado por João Filho - Jornalista, Radialista e Pesquisador

Em 11 de junho de 1938, nascia João Batista Cantanhende Martins, conhecido e eternizado entre os bequimãoenses como Juca Martins. Filho de Atanásio Lourenço Martins e Lídia Cantanhende Martins, ele cresceu junto com o próprio município de Bequimão, emancipado apenas três anos antes de seu nascimento, em 1935. Sua trajetória pessoal e política se confunde com a própria história do município, que completa 90 anos de emancipação política em 2025.

Se estivesse vivo, Juca Martins estaria completando 87 anos. Mas sua ausência física não apagou sua presença simbólica. Em cada canto da cidade – da sede à zona rural – seu nome ressoa como sinônimo de liderança, trabalho e compromisso. Desde jovem, enfrentou dificuldades para ajudar no sustento da família, mas foi na política que decidiu fazer história, enfrentando poderosos e defendendo os interesses de seu povo.

Falecido em 18 de agosto de 2017, Juca Martins permanece vivo na memória coletiva dos bequimãoenses – eleitores, aliados, opositores. Sua influência transcende o tempo. A política local é compreendida a partir de três fases: antes, durante e depois de Juca. Mesmo após quase oito anos de sua partida, seu nome continua sendo o principal assunto nas rodas de conversa sobre política. Amado por muitos, criticado por alguns, respeitado por todos.

Dedicado por mais de meio século à vida pública, Juca enfrentou a perseguição do regime militar, mas jamais desistiu. Para sua família e para o povo da Baixada Maranhense, tornou-se símbolo de coragem e conquistas. Era um político de convicções firmes, que não fazia distinções por cor, classe social ou posição ideológica. Sempre teve lado, jamais se vendeu e nunca se rendeu. Foi leal aos seus aliados e nunca esmoreceu diante de derrotas – renascia como uma Fênix, mantendo seu grupo político forte e atuante, mesmo fora do poder.

Como muitos jovens do interior, saiu de Bequimão para estudar em São Luís, onde cursou o ginásio e o científico (atualmente equivalentes ao ensino fundamental e médio). No entanto, a morte do pai o obrigou a retornar à terra natal para ajudar a mãe e cuidar da família. De volta à cidade, fez amizade com o comerciante Torquato Pereira, que lhe ofereceu o primeiro emprego como caixeiro. Aos 18 anos, tornou-se sócio da firma Torquato PP de Abreu & Cia. Foi o próprio Torquato quem o incentivou a entrar na política.

Juca era popular, comunicativo e habilidoso no trato com todos os segmentos da sociedade. Com essas qualidades, logo se destacou e se tornou uma das maiores lideranças políticas de Bequimão. Ele próprio relatou que sua entrada na política foi motivada pelas perseguições que os comerciantes sofriam por parte de fiscais do Estado, indicados por grupos governistas para sufocar adversários. “Aqui, nós éramos contra, do PP, ligados à família Damasceno, que tinha como prefeito Joarez Damasceno”, recordou em entrevista ao jornalista Paulinho Castro.

Com apoio de Torquato, Juca candidatou-se a vice-prefeito, cargo que, à época, era votado separadamente. Mesmo jovem, recebeu 16 votos a mais que o prefeito eleito, Joarez Damasceno. Em 1966, com apenas 28 anos, Juca foi eleito prefeito de Bequimão pelo PSP, tornando-se um dos mais jovens do país a ocupar o cargo.

Durante sua carreira, enfrentou duras perseguições de autoridades estaduais, como o general Arthur Carvalho e Francisco Figueiredo, que tentaram impedir novas candidaturas suas. Mas Juca não recuou. Com inteligência e coragem, enfrentou os adversários com altivez e habilidade política.

Juca era incansável. Seu expediente era de domingo a domingo e chegava a durar 18 horas por dia. Atendia a todos, sem hora para terminar. Fiel à sua palavra, consolidou uma base de apoio sólida e apaixonada. Não tinha apenas eleitores, mas uma legião de iradores que, até hoje, leva seu nome como bandeira de luta.

Juca Martins era um líder que ouvia seus pares e era ouvido por lideranças e seus liderados. Foto: Reprodução/Arquivo Familiar.

Como gestor, deixou marcas profundas: construiu as primeiras escolas da zona rural, instalou o Ginásio Bandeirante, ergueu o Cais do Porto, a Praça Santo Antônio e a Praça da Bíblia, asfaltou ruas e avenidas, eletrificou povoados, construiu postos de saúde, barragens e abriu estradas vicinais. Também estruturou o bairro Cidade Nova, hoje o mais populoso da cidade.

De reputação ilibada, era respeitado até pelos adversários. Um político coerente, de princípios sólidos, que sempre trabalhou em busca de melhorias para o seu povo. Mesmo aos 60 anos, Juca demonstrou vigor ao iniciar e concluir o curso de Direito, formando-se em 1999. Foi aprovado de primeira no exame da OAB, dando mais um exemplo de superação e determinação.

Juca Martins não veio ao mundo a eio. Cumpriu sua missão, formou discípulos e escreveu uma história política insuperável em Bequimão. Com pulso firme, generosidade e coração aberto, tornou-se o maior líder político da história do município. Não por acaso, sua trajetória se mistura à de sua cidade natal – é impossível falar de Bequimão sem lembrar de Juca Martins.

Foi casado com Maria Lênora, a Professora Letinha, com quem teve três filhos: João Martins (ex-prefeito), Liana Martins e Cirlanda Martins. Também ajudou sua mãe a criar o sobrinho Antônio José Martins (Zé Martins), atual prefeito de Bequimão, eleito para seu terceiro mandato.

Se quem parte consegue ver o que acontece na Terra, Juca Martins certamente se orgulha do legado que deixou e de ver Bequimão sendo governada por discípulos formados na “Universidade Jacarerana” – o espaço simbólico onde ele reunia lideranças, tomava decisões e traçava os rumos da política municipal.

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