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Eduardo Braide: o prefeito do Instagram e da ilusão coletiva 1j127

Artigo escrito e publicado por João Filho - Jornalista, Radialista e Pesquisador 5p102s

A reeleição de Eduardo Braide com quase 70% dos votos em 2024 é um retrato amargo da política em tempos de redes sociais: a ilusão vale mais que a realidade. Em uma cidade onde o caos grita nas ruas, hospitais, escolas e terminais de ônibus, a imagem pasteurizada de um gestor sorridente distribuindo pirulitos no Instagram se sobrepôs à dura rotina do povo ludovicense. É o triunfo da encenação sobre a eficiência — e da manipulação sobre a transparência. 2c5x73

Desde que assumiu a Prefeitura de São Luís em 2021, Braide mostrou-se um político frio, calculista e, sobretudo, perigoso. Não por empunhar armas ou gritar nas redes sociais, mas por saber usar o poder e o marketing como ninguém. Traiu aliados históricos, escanteou vereadores e concentrou decisões em um círculo reduzido de confiança, protegendo-se por trás de exonerações midiáticas sempre que algum escândalo vinha à tona.

Escândalos e contratos sob suspeita

Sua gestão ficou marcada por uma sucessão de denúncias: contratos milionários sem licitação, convênios obscuros com associações e escolas comunitárias, e uma enxurrada de escândalos envolvendo cobrança de propina e superfaturamento em eventos culturais. As festas populares se tornaram vitrines para cifras astronômicas, enquanto os artistas locais seguiam esquecidos. O Ministério Público? Silencioso.

E quando os escândalos ganhavam as manchetes, Braide adotava a tática do bom moço: exonerava o envolvido e dizia não saber de nada. Mas, segundo fontes internas, nada acontecia sem o seu conhecimento — nem mesmo a farra dos contratos da Secretaria de Cultura, Semcas, SMTT e Saúde.

O caos pintado de maquiagem

Na saúde, a maquiagem é a regra. UBSs com pintura nova, mas sem médicos. O Hospital da Criança, mesmo reformado, opera com equipamentos sucateados. A central de marcação de consultas virou uma central de frustração: paciente marca hoje, consulta só daqui a meses — uma estratégia deliberada, dizem servidores, para esvaziar filas e esconder o colapso.

Nos Socorrões I e II, a “requalificação” é outra miragem: pintura nova em paredes antigas, mas tomógrafos e aparelhos de raio-X vivem mais quebrados que funcionando. A lógica é a mesma nas Unidades Básicas de Saúde, muitas das quais encerram o atendimento por falta de insumos ou profissionais.

Na educação, o cenário é desolador. Escolas com estruturas precárias, ar-condicionado sem manutenção, crianças fora da sala de aula por falta de vagas. Onde há aula, muitas vezes o cardápio é biscoito com refresco colorido — uma merenda escolar que envergonha. O Ministério Público da Educação até reage, mas Braide segue como se estivesse acima da lei.

Infraestrutura e o projeto “Trânsito Livre”

Braide também vendeu a ideia de um trânsito moderno. Na prática, gastou milhões em obras mal planejadas, invadiu terrenos privados com respaldo judicial duvidoso e, até agora, não conseguiu melhorar o tráfego da cidade. As avenidas seguem esburacadas, a sinalização é precária, e os bairros continuam entregues à lama e à boraqueira.

Cultura para inglês ver — e para artista nacional receber

Na cultura, a política do “pão e circo” segue firme. Shows milionários para artistas de fora, enquanto os fazedores de cultura local lutam para receber. Chamamentos públicos confusos, contratos turvos e um padrão de superfaturamento que já virou regra — tudo embalado com glitter e fogos de artifício, enquanto a periferia continua invisível.

O caso do Clio vermelho e a política da dissimulação

Em 2024, a bomba: uma postagem acusando Braide e o secretário Davi Col Debella de cobrarem propina foi apagada rapidamente. Dias depois, um carro Clio vermelho, estacionado em frente a um condomínio de luxo, foi encontrado com R$ 1 milhão em espécie. O inquérito foi iniciado, o irmão do prefeito foi ouvido — e, como sempre, o silêncio tomou conta. Caso encerrado? Ou abafado?

Do discurso anticorrupção ao subsídio milionário para empresários

Braide se elegeu em 2020 prometendo o fim da “mamata” no transporte público. Hoje, os empresários do setor já embolsaram quase R$ 100 milhões em subsídios. O sistema continua sucateado, os ônibus quebrados, e os trabalhadores — usuários e motoristas — os mais penalizados. Uma nova licitação foi anunciada, mas antes disso, Braide torrou R$ 16 milhões em um projeto de transporte por aplicativo que durou apenas um dia.

Popularidade fabricada e pesquisas suspeitas

Apesar de tudo, Braide aparece liderando pesquisas para o Governo do Estado. O povo, que enfrenta filas em hospitais e engarrafamentos quilométricos todos os dias, assiste a essa ascensão com perplexidade. Como pode alguém tão ausente da realidade popular ser tão presente nas intenções de voto?

A resposta pode estar na forma como ele governa: com o celular na mão, o feed em dia e o povo iludido. Eduardo Braide é um caso clássico de marketing que vence a política. Um gestor que manipula a percepção pública com a mesma habilidade com que evita a transparência e distribui responsabilidades.

São Luís precisa abrir os olhos. O pirulito do Instagram pode até ser doce, mas encobre um gosto amargo de um governo que prioriza a estética da ilusão em detrimento da ética da ação.

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