Crime é crime: Justiça precisa obrigar fraudadores do INSS a devolver o dinheiro aos aposentados 685xg
Artigo escrito e publicado por João Filho - Jornalista, Radialista e Pesquisador sobre rádio no Maranhão 2j4x59

O Brasil se perde na morosidade da Justiça e apodrece pela ausência de coerência legal. Em um país onde um cidadão é condenado à prisão em regime fechado por furtar uma galinha, políticos e empresários envolvidos em esquemas milionários de corrupção seguem impunes, muitas vezes mantendo regalias como se ainda estivessem em plena atividade pública. Magistrados flagrados em desvios de conduta são aposentados compulsoriamente com vencimentos integrais, como se a Constituição funcionasse por módulos: um para os pobres e outro para os ricos; um para os anônimos e outro para as elites. 446552
Nos últimos dias, a maior indignação popular vem da descoberta de um gigantesco esquema de fraude contra aposentados e pensionistas do INSS. A chamada Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, revelou uma ação criminosa articulada e persistente, na qual associações fantasmas realizavam descontos indevidos nos benefícios de aposentados, simulando empréstimos e mensalidades associativas não autorizadas.
De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), a fraude começou ainda em 2019, durante a gestão do então presidente Jair Bolsonaro, e se intensificou entre 2022 e 2023. A principal entidade envolvida até o momento é a AAPPS Universo (Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social), sediada em Sergipe, que sozinho arrecadou mais de R$ 57,9 milhões de forma indevida. Em 2022, a AAPPS movimentou R$ 5 milhões. No ano seguinte, esse valor explodiu, representando um aumento de 1.050%.
Além da AAPPS, também está sob investigação a APDAP Prev (Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas), que teria operado esquema semelhante. A PF realizou buscas e apreensões em endereços ligados às duas entidades e identificou que as quadrilhas utilizaram diversas contas bancárias para dificultar o rastreamento dos valores desviados. O relatório da CGU apontou ainda que os recursos eram pulverizados em contas de “beneficiários diretos” das associações, simulando transferências pessoais para ocultar o real destino do dinheiro.
A vítima principal dessa operação são os idosos brasileiros – os mais vulneráveis entre os cidadãos – que sofreram descontos indevidos em seus benefícios previdenciários, muitas vezes sem sequer saber que estavam filiados a qualquer associação. Em muitos casos, os aposentados nem sabiam como proceder para cancelar os descontos. O rombo é gigante e até agora ninguém foi preso ou devolveu a grana.
O escândalo ganhou contornos ainda mais graves com suspeitas de envolvimento de agentes políticos. No Maranhão, um deputado estadual aliado do governador Carlos Brandão (PSB) é investigado por supostamente ter recebido mais de R$ 5 milhões oriundos do esquema. Também circula o nome de um senador do PDT, que teria ligações com uma das associações fraudulentas. Se confirmadas as suspeitas, além do crime financeiro, há risco de que esses recursos ilícitos estejam sendo preparados para abastecer campanhas eleitorais em 2026 — o que transformaria a eleição brasileira em mais uma “feira de votos”.
É inissível que uma fraude dessa magnitude se resolva apenas com a demissão de servidores e fechamento das entidades envolvidas. Se o dinheiro desviado não for devolvido aos aposentados, a mensagem que a Justiça ará à sociedade será clara: vale a pena roubar, desde que se roube muito e se ocupe cargos altos. O correto seria não apenas a prisão dos envolvidos, mas também o bloqueio e confisco de bens para ressarcir integralmente os lesados.
A Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2024, é um o importante, mas precisa ir além. Os responsáveis — incluindo operadores das associações, servidores públicos omissos e eventuais agentes políticos cúmplices — devem ser identificados, processados, punidos e obrigados a reparar os danos causados.
A lei deve ser aplicada com rigor, sem seletividade social. O Brasil não pode ser um país onde os pobres pagam a conta enquanto criminosos de colarinho branco continuam livres. A impunidade institucionalizada é um câncer que corrói a democracia e destrói a confiança no Estado.
Se uma associação criada em 2022 foi capaz de desviar quase R$ 100 milhões até fevereiro de 2024, imagina o que não fizeram aquelas que atuam há mais tempo nesse esquema silencioso, que lesa aposentados há pelo menos seis anos.
O que o povo quer saber é simples: quem vai devolver o dinheiro dos aposentados? Haverá prisão para os culpados? Ou mais uma vez o Brasil dará de ombros e deixará os velhinhos, que trabalharam a vida inteira, pagar a conta da corrupção?
Crime é crime. Ponto final. E quem comete, seja quem for, precisa pagar. Com dinheiro, com liberdade e com vergonha na cara.
Por João Filho – Jornalista, Radialista e Pesquisador sobre rádio no Maranhão